Documento publicado na Visão Contacto, na sequência da minha participação no InovContacto.
Se os preços caem, os salários caem? - Consequências da deflação.
Surpreende-me que as pessoas não fiquem de pelo arrepiado quando o preço das coisas não pára de cair. Especialmente numa sociedade como a nossa, onde as coisas mais desejadas são aqueles que são compradas a crédito ou será que o leitor comprou o seu “brutal” LCD a pronto? E o carro? E casa? E a mobília?
Deflação, o que não é senão uma contínua queda nos preços para o comum mortal é pior ainda pelas coisas que não estão à vista:
o À medida que os preços caem, as margens de lucro das empresas também caem.
o Se as margens estão mais baixas, as empresas farão o que for preciso para ganhar o mesmo. Para isto há três formas (e é neste ponto que se torna interessante):
1. Comprar matérias-primas mais baratas (ajuda a deflação, mas os seus concorrentes irão fazer o mesmo, assim não tenha ilusões).
2. Melhorar a forma de produzir mais com menos (é uma grande ideia, mas isso demora tempo, vontade, esforço e ter uma boa ideia).
3. Pagar menos para os trabalhadores (que é o principal custo fixo que uma empresa). Isto pode ser feito despedindo pessoas e contratando pessoas mais baratas (exemplo das multinacionais), ou acordando redução dos salários (que podem estar ligados directamente à taxa de inflação)
A primeira consequência da deflação é que, se as coisas baixam de preço, os salários das pessoas também vão descer.
o Independentemente do que acontece ao salário, quando maior a deflação pior é para qualquer pessoa com dívidas:
o Quando há inflação ou, conforme o tempo passa, o pagamento da dívida tem um valor menor (não é o mesmo dever 1000€ em 1970 que em 2009, certo?)
o Quando há deflação, a dívida aumenta ao longo do tempo (se vê diminuir o salário, ou vende menos, vai-lhe custar mais ou menos o mesmo que antes o pagamento da hipoteca).
No meio de uma deflação, as dívidas existentes tornam-se maiores (por muito que baixe a Euribor) e os bancos vão pensar duas vezes para lhe dar crédito (a não ser, como tem acontecido sempre, que possa demonstrar que o dinheiro não lhe faz a mínima falta). Além disso, quando os preços não fazem mais nada que baixar, as pessoas contém os gastos. Isto significa que:
o Os consumidores esperam, o mais possível para fazer despesas significativas (como comprar um computador, um carro ou uma casa) de forma a obter o maior retorno do seu dinheiro.
No meio de uma deflação, as pessoas também não compram e as empresas não vendem. E por último também cai a contratação, e atrás dela os lucros. As empresas evitam contratar qualquer pessoa até que ela seja absolutamente necessária, porque é adicionar um valor fixo recorrente que não sabem quando vão rentabilizar, se dentro de 6,8,10... meses.
o Isto é uma tragédia para as pessoas desempregadas, porque não há vagas (por medo do valor recorrente). E se houver alguma, os salários que são oferecidos são baixos. Sob estas condições, o mercado de trabalho está também parado.
o E o que acontece depois?
o As pessoas têm medo de ficar desempregadas, e reduzem os gastos ...
o + ... o que significa que as empresas vendem menos ...
o + ... o que faz baixar os preços para tentarem vender alguma coisa, há menos empregos, etc, etc, etc ... e caímos num circulo vicioso.
Mas ao mesmo tempo exigimos aos governos que façam o outro mudar de opinião (as empresas querem apoio para vender, e que lhes baixem os custos por despedir e a população não quer que lhes toquem no salário e não querem estar toda uma vida desempregadas.
Então como resolver isso? Não existe nenhuma fórmula mágica? De facto, no Japão, foram necessários 10 anos para resolver um problema como este e o resultado é que os preços nas ruas de Tóquio estão como há 10 anos. A fórmula mágica somos nós mesmos, o cidadão anónimo. Se queremos manter o nosso emprego temos de comprar produtos Nacionais. Sim, temos de comprar o pão da “Ti Maria”, os enchidos e a carne no talho do Luís que por sua vez compra no matadouro da Sofia, que por sua vez compra os porcos, vacas, … ao António, à Isabel e ao João.
Se cada um de nós optar por comprar um produto nacional em detrimento de um estrangeiro estamos a assegurar não só o nosso posto de trabalho como o dos nossos vizinhos e dos nossos familiares mesmo aqueles que estão “lá fora”, á procura de uma vida melhor.O texto está publicado
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